China e Brasil no agronegócio: conheça os 5 novos mercados
A recente visita oficial do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) à China consolidou uma série de avanços estratégicos para o agronegócio brasileiro. Além da abertura de cinco novos mercados, os acordos bilaterais firmados marcam o fortalecimento da relação sino-brasileira em temas sanitários, logísticos e regulatórios. Este conteúdo aborda os desdobramentos mais relevantes da parceria e como os processos de regularização e defesa sanitária serão impactados daqui para frente.
Cinco novos mercados para o agro brasileiro
A assinatura de protocolos entre Brasil e China viabilizou a entrada de cinco novos produtos agropecuários no mercado chinês:
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Carne de pato
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Carne de peru
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Miúdos de frango (fígado, coração e moela)
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Derivados da indústria do etanol de milho (DDG e DDGS)
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Farelo de amendoim
Essa é a maior liberação simultânea de novos produtos já realizada pela China em relação a qualquer outro país, o que reforça a confiança no sistema sanitário brasileiro. Os novos mercados representam oportunidades relevantes para o agronegócio nacional, com potencial de geração de até US$ 20 bilhões em novas receitas de exportação, segundo estimativas do Mapa.
Esses produtos ganham relevância em um contexto de aumento da demanda alimentar na Ásia e de diversificação do perfil exportador brasileiro, especialmente em segmentos com alto valor agregado.
O que temos de novidade entre Brasil e China
O destaque da missão institucional liderada pelo ministro Carlos Fávaro foi a assinatura de um Memorando de Entendimento com a Administração-Geral de Aduanas da China (GACC). O documento estabelece uma cooperação contínua em temas sanitários e fitossanitários, incluindo:
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Reconhecimento mútuo de procedimentos de inspeção
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Aceleração de processos de habilitação de frigoríficos
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Compartilhamento de dados técnicos e boas práticas de fiscalização
Com o MoU, Brasil e China passam a adotar um canal direto de comunicação para resolução de entraves técnicos e alinhamento de critérios sanitários, o que deve reduzir o tempo médio de negociação de novos produtos e ampliar a previsibilidade para exportadores.
Como vai funcionar na prática
A implementação dos acordos seguirá protocolos técnicos definidos em conjunto pelo Mapa e a GACC. A habilitação de plantas exportadoras, por exemplo, será feita com base em auditorias documentais, certificações sanitárias pré-existentes e eventuais inspeções in loco. A China também poderá utilizar dados do Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI-POA) e do Sistema de Gestão de Trânsito Animal (e-GTA) como parte do processo de verificação de conformidade.
Além disso, o Brasil se comprometeu a atualizar regularmente suas normativas e relatórios sanitários, facilitando a rastreabilidade e a padronização dos embarques. A GACC, por sua vez, garantiu maior agilidade nas análises técnicas, com prazos estabelecidos para respostas formais às solicitações do Brasil.
Principais implicações para exportadores
Para os produtores e indústrias brasileiras, o avanço representa tanto uma oportunidade quanto uma exigência: será necessário cumprir exigências específicas da autoridade chinesa, como:
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Certificações sanitárias específicas por produto
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Dossiês técnicos detalhados sobre o processo produtivo
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Evidência de rastreabilidade desde a origem animal ou vegetal até o embarque
A adaptação a essas exigências exigirá forte integração entre as empresas, os órgãos de defesa agropecuária e os operadores logísticos.
Como os órgãos estão regulando o cenário
A regulação do novo fluxo comercial será conduzida principalmente por três entidades:
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MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária): coordena a interface diplomática e técnica com os chineses, elabora normativas internas e fiscaliza estabelecimentos habilitados.
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SDA (Secretaria de Defesa Agropecuária): responsável por garantir a conformidade sanitária e fitossanitária dos produtos exportados.
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Vigiagro (Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional): executa a inspeção documental e física nos pontos de fronteira (portos, aeroportos e fronteiras terrestres).
Além dessas, os governos estaduais e as Superintendências Federais de Agricultura (SFAs) terão papel essencial no acompanhamento e suporte aos exportadores regionais, sobretudo nas fases iniciais de adaptação às novas regras.
Desafios regulatórios em destaque
Alguns pontos exigirão atenção redobrada dos agentes reguladores:
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Harmonização de sistemas eletrônicos entre Brasil e China
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Tradução e validação de certificados sanitários bilíngues
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Monitoramento contínuo de pragas e doenças de interesse quarentenário
À medida que Brasil e China aprofundam sua relação comercial no setor agropecuário, surgem desafios regulatórios que exigem atenção técnica e diplomática. Esses obstáculos não são apenas burocráticos: eles envolvem padrões sanitários, interoperabilidade tecnológica e vigilância sanitária contínua. A seguir, explicamos os principais pontos críticos:
Harmonização de sistemas eletrônicos entre Brasil e China
Um dos grandes entraves em operações internacionais é a integração entre plataformas digitais de controle sanitário e de comércio exterior. No caso do Brasil, os sistemas como o SISCOMEX, o e-GTA e o SIGSIF são usados para rastrear e certificar cargas agropecuárias. Já a China utiliza plataformas próprias, como o sistema da GACC, com protocolos diferentes de estrutura e linguagem de dados.
Desafio: garantir que os sistemas brasileiros consigam “conversar” com os chineses em tempo real, permitindo o envio seguro e validado de informações sobre produtos, certificados sanitários e histórico de embarques.
Por que isso importa: atrasos ou falhas na integração podem resultar em cargas retidas, perda de prazos comerciais e até devoluções de produtos por falta de conformidade documental.
Tradução e validação de certificados sanitários bilíngues
Para que os produtos brasileiros entrem na China, é necessário emitir certificados sanitários internacionais (CSIs) em conformidade com os padrões exigidos por lá. Esses documentos atestam que o produto está livre de doenças, pragas e contaminantes, e que foi inspecionado segundo normas equivalentes às chinesas.
Desafio: a emissão desses certificados precisa ser bilíngue (português/mandarim) e validada por ambas as partes. Isso exige não apenas uma tradução técnica precisa, mas também a equivalência legal dos termos sanitários, evitando ambiguidades que possam comprometer a aceitação do lote exportado.
Por que isso importa: um erro de tradução ou a ausência de informações exigidas pela GACC pode invalidar um certificado, impedindo o desembaraço aduaneiro e gerando prejuízos ao exportador.
Monitoramento contínuo de pragas e doenças de interesse quarentenário
A China impõe uma série de exigências fitossanitárias com base em listas de pragas e doenças de quarentena – ou seja, agentes biológicos que, caso identificados nos produtos importados, podem causar sérios danos à agricultura local e exigir ações de contenção.
Desafio: o Brasil precisa manter um sistema de vigilância ativa e atualização constante dos status sanitários regionais. Isso envolve:
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Monitoramento epidemiológico em campo
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Relatórios periódicos ao governo chinês
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Adoção de protocolos de mitigação de riscos em tempo real
Por que isso importa: a simples notificação de uma praga quarentenária em uma região exportadora pode levar à suspensão temporária das exportações, mesmo que não haja risco real à carga. Por isso, o controle e a comunicação preventiva são cruciais.
O sistema de defesa sanitária do Brasil
O Brasil possui um dos sistemas de defesa agropecuária mais robustos do mundo, com reconhecimento internacional pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). Esse sistema é sustentado por uma estrutura descentralizada, composta por:
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Serviços estaduais de inspeção e vigilância
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Laboratórios de referência credenciados
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Sistemas integrados de notificação e rastreabilidade
Essa estrutura foi fundamental para que os produtos brasileiros obtivessem aprovação técnica na China, demonstrando elevado padrão de controle de riscos biológicos, químicos e físicos em toda a cadeia produtiva.
Sistema agrosanitário integrado
O conceito agrosanitário vai além do aspecto sanitário-animal. Ele abrange a segurança vegetal, a inocuidade dos alimentos e a sustentabilidade dos insumos utilizados. O Brasil tem investido em soluções digitais e auditorias remotas, promovendo:
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Monitoramento automatizado de rebanhos e lavouras
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Controle de resíduos e contaminantes
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Certificação eletrônica de conformidade
Essas ferramentas aumentam a transparência dos processos e reduzem barreiras técnicas impostas por mercados exigentes como o chinês.
Documentações envolvidas no processo
A exportação de produtos agropecuários para a China requer uma série de documentos técnicos e legais, que devem ser emitidos com rigor e acompanhados de forma padronizada. Entre os principais estão:
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Certificado sanitário internacional (CSI): documento que atesta a conformidade do produto com os requisitos sanitários do país de destino.
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Relatório de inspeção veterinária: emitido pela fiscalização federal após vistoria nas unidades produtivas.
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Dossiê técnico do produto: inclui informações sobre o processo produtivo, análises laboratoriais e histórico de doenças ou contaminações.
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Registro de exportador habilitado: documento que comprova que a empresa está registrada no sistema de exportações do MAPA e autorizada pela GACC.
A gestão adequada desses documentos é essencial para garantir a fluidez das operações logísticas e evitar retenções em portos ou aeroportos.
Como a CBRdoc pode apoiar processos de regularização do agro
A CBRdoc atua no setor de inteligência documental, oferecendo soluções para automação, validação e guarda segura de documentos estratégicos. Embora não esteja diretamente envolvida nos trâmites com o MAPA ou com a GACC, a empresa pode apoiar os agentes do agronegócio em etapas complementares de regularização, como:
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Organização e digitalização de dossiês técnicos e sanitários
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Assinatura digital e autenticação de documentos sensíveis
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Integração com sistemas de gestão documental e compliance
Com isso, empresas do agro que precisam atender exigências regulatórias complexas e lidar com grandes volumes de documentação técnica podem se beneficiar de maior agilidade, padronização e segurança jurídica em seus processos.